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publicado por Helder, em 30.01.11 às 21:43link do post | favorito

Por vezes nesta pacata vida minha encontro-me perante situações que trazem a lume o quanto de nostálgico e saudosista tenho. Situações do foro quotidiano, que passam despercebidas pela sua banalidade.

Não fiquem com a ideia errada após esta introdução pomposa: no meu primeiro desabafo do ano da graça do Senhor de 2011, não vou discutir filosofias pré-socráticas; vou falar sobre a extensa colecção de brinquedos da minha infância que ainda possuo.

Numa vulgar conversa com colegas, noto que no que toca a apego por objectos pessoais, há pessoas que demonstram pouco e não tem problema em livrar-se de toda e qualquer tralha inútil que esteja a ocupar espaço, e as pessoas que demonstram apego às tralhas inúteis e não se conseguem desfazer de tais bagatelas de ânimo leve. Como deverá ser já por demais óbvio, eu incluo-me no último grupo.

Como tal tenho os armários a abarrotar de brinquedos dos áureos anos da minha infância. Action Man, Lego, Micromachines, Nintendo e claro os conjuntos Playmobil! Sem qualquer desprimor para o kit de magia Borras, o projector do Mickey Mouse, a máquina de pinball ou os carrinhos telecomandados. Coisas que certas pessoas (leia-se a minha mãe) tentam por todos os meios persuadir-me a deitar fora. Tais argumentações caiem em saco roto pois é simplesmente mais forte que eu; não consigo dizer adeus aos meus berloques.

Mas vamos ao busílis da questão que é a interpretação auto-psicográfica sobre o porquê de eu ser assim ( a piéce de resistance de todo este acabrunhado texto, sem a qual este roçaria o ridículo de um indivíduo de vinte anos enumerar os seus brinquedos de tempos idos).

Manifesto especial apreço a vulgares objectos que em nada me seriam úteis na actualidade, porque que de facto toda essa quinquilharia me traz memórias do passado. Um passado bem mais simples, sem preocupações mundanas, apenas inconscientemente e salvaguardado pela bênção da ignorância, vivendo o momento. E que fazia essa criança em planos metafísicos desconhecidos pelo museu do Playmobil? Simplesmente, brincava. E sorria. A nostalgia da infância que Pessoa apregoava não me é de facto estranha. Por alguma razão, Pessoa foi como o meu louco favorito.

E quem de facto vive olhando para o passado, não deve viver realmente o presente, apenas passa por ele, caminhando de costas voltadas para o futuro. O que quererá dizer aquilo que já suspeitava, não sou feliz.

Não equivale a dizer que sou infeliz, apenas que não sendo actualmente nem uma coisa nem o contrário, vivo com alguma indiferença estóica o que é mau porque me coloca numa linha de pensamento que mais tarde ou mais cedo me levará a questionar o sentido e o valor da minha vida. E dito de forma simples, a ataraxia e a apatia são formas muito secantes de viver a vida.

Mas não façam grande caso do que agora escrevo; quem sabe na inconstância constante que é o meu estado de espírito, amanhã lerei estas palavras como estranhas a mim próprio, sorrirei e munido de hedonismo, partirei em busca do prazer de viver.

música: Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness
sinto-me: Melancólico...

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